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Capítulo 1
Cena: Aterro do flamengo
Domingo de sol... em meio ao movimento de pessoas, Bia corre pela orla da praia praticando exercícios. Ela encontra Ilda Marins.
Texto
Bia – Dona Ilda! Que surpresa! Eu não sabia que a senhora também corria por aqui.
Ilda – E eu não sabia que você morava por aqui.
Bia- Pois é, meu apartamento é logo ali em frente. Tá um lindo dia, não é?
Ilda – Sem dúvida, um domingo como todo carioca gosta. Sol, praia cheia, muita gente bonita e uma vista maravilhosa. Eu amo esse lugar. Sabe, eu acho que não conseguiria viver algum dia definitivamente fora do Rio de Janeiro.
Bia – Mas a senhora é uma mulher tão viajada, importante! Queria eu conhecer o mundo como a senhora. Deve haver lugares muito mais atraentes como Paris. Dizem que é lindo.
Ilda – É verdade. Eu realmente já conheci muitas cidades pelo mundo, mas eu sou patriota, gosto daqui. Eu vou indo, querida. Foi bom te ver. (retira-se)
Bia – Patriota. Que bobagem! Tem gente que não valoriza mesmo oque tem. Quisera eu estar no seu lugar. Mas algum dia nós ainda nos veremos frente a frente, na mesmas condições financeiras, como duas empresárias de sucesso, duas mulheres famosas, reconhecidas, e donas do mundo. Minha sorte ainda vai mudar, eu juro.
Dia seguinte...
Cena: Marins moda:
CLô comparece ao escritório de Ilda
Texto
CLô – Mandou me chamar, Dona Ilda.
Ilda- Sim.
CLô – Algum problema? Eu fiz alguma coisa errada? Esqueci de algum compromisso com fornecedor em sua agenda?
Ilda – Chega, chega. Por que essa insegurança toda, querida? Você insiste em agir como uma funcionária recém-admitida, inexperiente. Sabe que é muito competente e o motivo pelo qual a chamei aqui é justamente por isso. Quero lhe dar meus parabéns. Aquela planilha de venda que você fez me trouxe resultados muito satisfatórios. A Marins Moda está indo cada vez melhor e graças à sua competência. Penso seriamente em lhe promover para o Departamento pessoal ou minha assessora direta. O que acha?
(enquanto conversam... Bia ouve tudo por trás da porta não satisfeita)
CLô – Eu não sei. Quem sou eu, Dona Ilda?
Bia ouve a conversa irritada – Miserável! Ao invés de me promover, prefere essa gorda ridícula, que nem sequer sabe se vestir. Mas isso não vai ficar assim.
Cena: Copacabana... Em uma academia...
Isa está malhando enquanto conversa com algumas amigas
Texto
Kele – Adorei aquele conjunto que você usou na festa de aniversário da Ana.
Isa – Todo mundo adorou. É claro. Eu sei me vestir.
Kele – Podemos combinar de ir ao shopping fim de semana com a turma.
Isa – Eu adoro ir ao shopping. É meu programa favorito. Muita loja, muita roupa pra comprar, gente bonita.
Kele – Eu também. Sabe, isa, você disse que ia me levar qualquer dia em sua casa pra conhecer sua mãe. Você disse que ela é empresária, não é?
Isa – Minha mãe? Claro!(Isa tenta desconversar) Mas voltando ao assunto da festa, eu adorei o aniversário da Ana. Estava tudo lindo, você não acha?
Kele – Muito bonito.
Isa – E aquele gatinho então que deu em cima da gente...lembra? Que garoto educado, gentil. Aquilo sim é homem.
Kele – é, o Henrique é bem vestido, culto, já viajou o mundo. O pai dele é sócio de uma rede de automóveis. O cara tem grana. Mas dizem que ele é muito mulherengo, tem cara de santo, mas dá em cima de todo mundo. Não leva ninguém a sério.
Isa – É, homem é tudo igual mesmo. Só muda o endereço e o bolso de cada um.
(toca o celular de Isa) Com licença. Vou atender. É meu pai.(Isa se retira e fala ao celular com o pai) Oque você quer, pai? Está me atrapalhando.
Noel - Filha, já é tarde. Sua mãe e eu estamos ficamos preocupados.
Isa – Que caretice! Eu estou muito bem. Quer dizer, estava, até você ligar. Se toca, pai!
Noel – você tem que estudar. Quero que volte agora mesmo ou eu vou aí te buscar.
Isa – Você aqui?¹ Nem pensar! O que minhas amigas iriam dizer? Deus me livre você aqui, com aquelas camisas velhas, ridículas, Tudo bem, tudo bem. Eu estou indo. Mas nem pense em passar por aqui. (desliga)
Cena: Na casa de Isa
Aíldes – E ela?
Noel – Diz que já está vindo. Falou de um jeito comigo. As vezes eu me pergunto. Onde erramos na criação dessa menina?
Aíldes – É só uma fase, querido. Isa ainda é muito nova. Vai perceber com o tempo que a vida não é só academia, shopping, diversão.
Noel – Pois ela precisa aprender isso logo. Os luxos e caprichos dessa menina estão indo longe demais. O mar não está pra peixes, não. É só roupa cara, jóia, roupa da moda, só isso que ela saber. Trabalho que é bom, nada, e ainda se envergonha da gente. Vive nos humilhando, pisando na gente, cuspindo no prato que comeu.
Aíldes – É, esse mês estamos no sufoco. O cartão de crédito veio muito alto. A isa extrapolou. Usou quase todo o limite do cartão adicional que eu fiz pra ela e agora eu tenho que me virar pra acertar.
Noel – E a ingrata ainda reclama de tudo. Estamos criando muito mal essa menina, Aíldes. Ela precisa enxergar a vida com outros olhos, ser mais pé no chão. Temos que tomar uma atitude antes que seja tarde, antes que os caprichos de nossa filha vá longe demais.
Cena: Marins Moda
Texto
Bia – Eu ouvi a sua conversa com a Dona Ilda hoje lá no escritório. Ela está pensando em promover você, não é?
Clô – É, mas eu não levo jeito pra isso não. Meu lugar é onde eu estou. Gosto do que eu faço. Não tenho ambição nenhuma em subir de cargo, não.
Bia – E nem pode, né, querida? Olha bem pra você! Você achou mesmo que ela estava falando sério?
Clô – Como assim? O que você quer dizer?
Bia – o ÓBVIO! Ela estava zombando de você. Você não tem vocação pra exercer cargo de alto nível, não tem categoria. Não sabe falar, se expressar, não sabe nem se vestir. Eu só digo isto pra te ajudar, pra você não se iludir com falsas promessas. Sabe como é patrão, né. Agente nunca sabe oque se passa na mente deles.
Clô – Você acha? É, tem razão.
Bia – Olha essa sua roupinha. Quer dizer, roupão. Você parece um verdadeiro balão, uma atração de carnaval. Uma mulher chique, elegante precisa ter um corpo bonito, estar bem maquiada, bem vestida, além de ter competência profissional, é claro.
Clô – É, eu sei. Mas eu to fazendo regime, eu juro.
Bia – Regime? No seu caso, só nascendo de novo, querida, ou então, se operar. Mas uma operação pra obeso mórbido ainda é tão demorada nesse país! Eu vou indo. Pensa nisso, ta.
(retira-se deixando Clô arrasada.)
Cena seguinte... anoitece....
Cena: Mel percorre às ruas do bairro à procura da mãe.
Texto
Mel – Boa noite, S. Heitor. O senhor não viu minha mãe por aí , não? Ela já deveria ter chegado. Nunca demorou tanto a voltar do trabalho.
Heitor – Olha, Mel, eu não a vi não.
Mel – É tão estranho! Liguei pro celular dela, mas ela não atende. Lá na Marins moda, já não tem mais ninguém, e o segurança não atende. Está bem, obrigada. (Mel continua andando a procura da mãe)
Cena: Na praia
CLô caminha pela areia da praia em direção ao mar lembrando das palavras de Bia...
“Regime? No seu caso, só nascendo de novo, querida, ou então, se operar. Mas uma operação pra obeso mórbido ainda é tão demorada nesse país! Eu vou indo. Pensa nisso, ta”
CLô continua caminhando sentido ao mar.
Continua no capítulo seguinte....